A Importância do perdão de dívidas em processos de insolvência

A insolvência pessoal é um mecanismo legal que permite aos devedores obterem uma segunda oportunidade para reestruturar a sua vida financeira. 

Um dos aspetos mais importantes deste processo é a exoneração do passivo restante, também conhecida como perdão de dívidas, que permite ao devedor libertar-se das dívidas que não foram pagas durante o processo.

Neste artigo, explicamos como funciona o perdão de dívidas, quais os tipos de dívida que podem ser exonerados e o impacto que este mecanismo tem na recuperação financeira do devedor.

Como funciona a exoneração do passivo restante

O perdão de dívidas não acontece automaticamente. Para que o devedor beneficie deste mecanismo, deve cumprir um conjunto de requisitos legais e obrigações ao longo do processo.

1. Liquidação de bens e avaliação do processo

• No processo de insolvência, o administrador de insolvência avalia os bens e rendimentos do devedor.

• Sempre que existam bens disponíveis, estes podem ser vendidos para pagar parte da dívida aos credores.

• Após esta fase, as dívidas que não forem pagas podem ser sujeitas a exoneração, permitindo ao devedor um recomeço financeiro.

2. Período de exoneração de cinco anos

• O devedor entra num período de exoneração, que dura cinco anos, durante o qual deve cumprir certas obrigações.

• Durante este período, uma parte do rendimento disponível pode ser afetada ao pagamento da dívida.

• O tribunal pode impor restrições e condições que devem ser cumpridas até ao fim do período de exoneração.


3. Perdão das dívidas não pagas

• Se todas as condições forem cumpridas, no final do período de exoneração, o tribunal determina o perdão das dívidas remanescentes.

• O devedor deixa de ser legalmente responsável pelo pagamento das dívidas incluídas no processo.

• Este mecanismo garante um recomeço financeiro sem a pressão das obrigações passadas.

O objetivo deste processo é permitir que pessoas endividadas possam reorganizar a sua vida financeira e voltar a integrar o sistema económico de forma sustentável.

Quais dívidas podem ser perdoadas e quais não podem

Nem todas as dívidas podem ser incluídas no processo de exoneração do passivo restante. A lei estabelece limites sobre os tipos de dívidas que podem ser perdoados e aquelas que continuam a ser exigíveis.

Dívidas que podem ser exoneradas

• Empréstimos bancários, incluindo créditos pessoais e créditos automóveis.

• Saldo negativo em cartões de crédito e linhas de crédito pessoais.

• Dívidas resultantes de contratos de fornecimento de serviços, como telecomunicações e eletricidade.

• Algumas dívidas fiscais, dependendo da análise do tribunal.

Dívidas que não podem ser perdoadas

Pensões de alimentos – Qualquer valor em dívida relativo a pensão de alimentos mantém-se ativo, mesmo após a insolvência.

Coimas e multas – Dívidas resultantes de infrações, como multas de trânsito ou sanções fiscais, não podem ser exoneradas.

Dívidas originadas por fraude ou crimes – Se a dívida estiver associada a atividades ilegais ou a processos judiciais de caráter penal, não pode ser incluída no processo de exoneração.

Indemnizações por responsabilidade civil – Valores devidos a terceiros como compensação por danos causados não são abrangidos pelo perdão de dívidas.

O devedor deve compreender exatamente quais as suas obrigações mesmo após a exoneração do passivo restante, para evitar problemas legais ou novas dificuldades financeiras.

Impactos do perdão de dívidas na recuperação financeira

O perdão de dívidas pode representar uma oportunidade única para reconstruir a vida financeira, mas também envolve desafios e limitações durante o período de exoneração.

1. Segunda oportunidade financeira

• Após a exoneração, o devedor pode reorganizar as suas finanças sem a pressão de pagamentos antigos.

• Pode voltar a planear um futuro financeiro sustentável e adotar estratégias para evitar o endividamento excessivo.

• Este processo permite que pessoas sobrecarregadas por dívidas tenham um novo começo sem a constante ameaça de cobranças e execuções.

2. Restrições durante o período de exoneração

Apesar das vantagens, o período de exoneração de cinco anos pode trazer algumas limitações:

Dificuldade no acesso a crédito – A maioria das instituições financeiras evita conceder crédito a pessoas que passaram por um processo de insolvência.

Possibilidade de afetação de rendimentos – Parte do rendimento do devedor pode ser direcionada para pagamento aos credores.

Restrição em atividades profissionais – Algumas profissões exigem que os trabalhadores não tenham antecedentes de insolvência, o que pode ser um obstáculo em certos setores.

O devedor deve estar preparado para estas dificuldades e adotar uma estratégia de gestão financeira responsável para evitar voltar a uma situação de insolvência no futuro.

O perdão de dívidas no âmbito da insolvência pessoal é um mecanismo legal essencial para ajudar devedores a recuperar a sua estabilidade financeira. No entanto, este processo exige cumprimento rigoroso das regras estabelecidas pelo tribunal e envolve restrições temporárias que devem ser consideradas.

Antes de avançar com um pedido de insolvência, é fundamental analisar as opções disponíveis e contar com o apoio de um advogado especializado, que pode orientar sobre a melhor forma de estruturar o processo e maximizar as vantagens da exoneração do passivo restante.


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